quarta-feira, julho 29, 2009

Cinco Estrelas da Amadora

A Amadora já não tem futebol de primeira. É tempo então para recordar algumas figuras cintilantes dos tricolores suburbanos, quando estes saíram de casa às 7:00 para apanhar o comboio superlotado da Primeira Divisão (eram 20 equipas a lutar pelo seu espaço em 1988, todas de braço no ar e odor a sovaco sem desodorizante na cara umas das outras).

Iniciemos esta missão espacial por Cartaxo, que calha tão bem na Amadora como Alhandra em Leiria ou Mangualde em Paços de Ferreira.
Muitos não se recordarão de Cartaxo. Quanto muito, lembrar-se-ão apenas dos vinhos do Cartaxo. O que é tremendamente injusto. Cartaxo foi Sideshow Bob ainda antes do próprio Sideshow Bob existir. E, extremamente importante, adicionou à guedelha insubmissa um solene bigode, emprestando uma lusitanidade ímpar à personagem.
Cartaxo surge aqui com uma espécie de halo messiânico a envolvê-lo. Mas, futebolisticamente, Cartaxo com o seu lookD.Sebastião goes to Woodstock” não salvou a Amadora do nevoeiro exibicional enquanto por lá cirandou. E, em abono da verdade, o que ele fez antes e depois da sua estadia na Amadora também não é recordado por aí além, nem mesmo pelos indefectíveis adeptos estrelistas entretidos a ouvir os relatos do Sporting e do Benfica e que não arredavam o traseiro da almofadinha na bancada. Cartaxo, decididamente, não teve muita parra nem muita uva. Mas, enfim, tinha estilo. Algum, pelo menos. Isto é, se utilizarmos um critério muito largo para o conceito de “estilo”.


Para “estilo” a sério temos os dois Marlons. Designemos o primeiro Marlon por “Marlon A”. “A” de Alves, mas também porque jogava à defesa e aparecia antes do outro Marlon nas fichas de jogo.
Marlon A era um xerife do sertão. Era durinho e tinha mão para sozinho dominar manadas com centenas de milhar de cabeças de gado, dispensando o uso de cães nas vastas paisagens de Mato Grosso. Puxava para trás o cabelo besuntado com um resíduo petrolífero a que chamava parafina com o auxílio de um pente que guardava religiosamente na retaguarda dos seus calções. O pente era um derivado de canivete suíço e também possuía uma lâmina afiada, um saca-rolhas, um cotonete e um palito de plástico – que isto de ser vaqueiro exigia preparação para todas as situações. Gostava de fazer churrascos nas selvagens ruas da Buraca e era costumeiro ouvi-lo uivar nas tórridas noites de luar da Brandoa.
Mas o que devemos reter é o facto de ter possuído um aprumado bigode. Tudo o resto perde o seu sentido perante este símbolo de virilidade.

Marlon B, por seu turno, tornou-se numa verdadeira “pièce de résistance” estrelista, Birame aparte. O homem a quem um comentador do norte uma vez se referiu como “Marlão Brandon” chamava-se, na realidade, Marlon Brandão. Consta que o pai atribuiu-lhe o nome como tributo ao malogrado actor Marlon Brando. Talvez o pai se tenha arrependido quando viu “O Último Tango em Paris”. E, vai daí, talvez não – talvez apenas tenha mudado a sua perspectiva sobre as possíveis finalidades da margarina.
Marlon B chegou e varreu o lodo que atolava o futebol estrelista com as suas longas melenas. Bradou “apocalypse, now!” às defesas contrárias e a bola era o seu grande desejo. Tornou-se o padrinho de todo o balneário, rendido que este estava às suas propostas irrecusáveis de bom futebol. Depois de uns tempos agradáveis, Marlon B fez-se à estrada e foi enquadrar-se no xadrez do Bessa durante uns bons anos, onde continuou a desempenhar os principais papéis. Ganhou um Óscar pela sua fantástica interpretação no spot publicitário do shampoo Organics, mas, rebelde, nunca chegou a receber o prémio, preferindo beberricar o seu cafezinho nas imediações da Boavista.

Rosário era pequenito e estava sempre pronto para a luta. Inspirou multidões com a sua “stamina”. Por exemplo, Didier Deschamps, que formatou a sua cara e o seu tamanho à imagem de Rosário (as semelhanças físicas são evidentes). Deschamps vira um Estrela da AmadoraPortimonense quando pensou em comprar um T2 na Reboleira e ficou abismado com a capacidade que Rosário demonstrou durante o aquecimento. Então, abandonou os planos de habitar na Reboleira (optou pela Venda Nova), voltou para França e adquiriu um “Kit Rosário”, que incluía uma máscara facial, um adaptador de tamanho, duas chuteiras e um corta-unhas. A partir daí, Deschamps deixou de ser um médio que corria muito mas não marcava golos para ser um médio que corria muito mas não marcava golos e que tinha aspecto de ser adjunto do Fernando Santos.
Aliás, durante a sua estadia na Amadora, Rosário já pouco se interessava pelo jogo dentro do campo. Rosário foi correndo e exercitando-se com afinco, mas apenas como preparação para o grande desafio da sua vida: acompanhar eternamente o engenheiro Fernando Santos. E ambos vão vivendo felizes para sempre, Santos com os seus esquemas tácticos e apertados nós de gravata e Rosário com os seus pinos e objectos de marcação variados.

Viagem que é viagem pelas estrelas não podia acabar sem uma referência ao mítico Bobó. Já sobejamente referenciado, este mito moderno desperta sorrisos entre os adeptos e funestas recordações de nódoas negras aos antigos adversários. É, provavelmente, o guineense mais famoso de sempre. É deveras curioso como os homens costumam suplicar recorrentemente pelo Bobó, apesar da sua carreira já ter terminado há bastante tempo, e as mulheres, três-meia-volta, estão com o Bobó na boca, mesmo aquelas que nada percebem de futebol. É um autêntico fenómeno de popularidade, este outrora vigoroso médio defensivo. Hoje em dia, porém, parece que nem o melhor Bobó de sempre seria capaz de reanimar o velho Estrela da Amadora.

3 comentários:

António Mazo disse...

vão apanhar no CÚ mariconços que gozam com profissionais

Anónimo disse...

Se fossemos mariconços, apanhar no cú seria tudo menos um castigo,penso eu. Logo,isto tudo foi um elogio.

Bem Haja, sr. Mazo, e parabéns por nos ter feito recordar o imortal ex-Estrela do mesmo nome, que ainda espalha brasas pelo tapete do Gavionenses, apesar dos seus vetustos e muy veneráveis 39 Verões.

Volte sempre e traga os amigos.

Gino Magnacio disse...

Antes de mais boa posta

Sr Mazo da minha parte obrigado pelo elogio, e e de salutar finalmente o aparecimento de um profissional mariconco que goza a apanhar no cu. A homossexualidade no futebol anda escondida e nao fosse a sua atitude e tambem a do balneario actual do Sporting ainda estavamos todos Calados relativamente a este problema. Por isso dou-lhe o meu apoio "Nao a discriminacao no futebol".

Quanto ao post dois apartes quanto ao Cartaxo que nao foram referidos.
1- E tio do minino David Luiz
2 - Foi o primeiro profissional a mudar de nome por razoes profissionais, de seu verdadeiro nome Jose Luiz mudou para Cartaxo depois de uma oferta milionaria da adega vinicola, o fenomeno alastrou-se surgiram varios Alvarinhos nas divisoes inferiores, um Penaguiao em Penafiel, Dam que e o nome que utilizam para comercializar o vinho do Dao na Alemanha, Periquita que jogava no Camara de Lobos, Lixa mais recentemente no Porto, Arruda no Maritimo, ouve um Rioja que esteve para vir o Chaves nos 90 mas preferiu o contracto da equipa B do Pajara Playas na altura. Laurent "Semillon" Blanc no estrangeiro, Maduro,Branco apesar de nunca terem jogado na mesma equipa. E existem rumores que a Naval vai contratar este ano mais um frances de nome Chardonnay.

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